Especialistas reforçam papel do médico-veterinário na vigilância de zoonoses durante evento em Mato Grosso
11 de dezembro de 2025 – Atualizado em 11/12/2025 – 3:11pm
Mato Grosso vive um momento de atenção no enfrentamento das zoonoses. Mesmo figurando entre os Estados com maior incidência e mortalidade por doenças zoonóticas no país, a rede pública ainda conta com um dos menores índices de médicos-veterinários atuando no Sistema Único de Saúde (SUS), tanto em nível estadual quanto municipal. O tema foi amplamente discutido durante o Treinamento Teórico-Prático em Vigilância de Arboviroses Zoonóticas aplicada à Vigilância Animal, realizado em Cuiabá.
O encontro reuniu profissionais da saúde, meio ambiente e instituições públicas para fortalecer ações de vigilância e reforçar o conceito de Saúde Única, abordagem que integra saúde humana, animal e ambiental. Em um Estado com intensa circulação de arboviroses e outras zoonoses, especialistas destacam que a ausência do médico-veterinário na saúde pública impacta diretamente a segurança sanitária da população.
Segundo dados do Ministério da Saúde (2025), Mato Grosso ocupa o 4º lugar nacional em incidência de zoonoses humanas e o 8º lugar nacional em mortalidade por zoonoses, e apesar desses números, o Estado segue entre os últimos colocados na estruturação da Saúde Pública Veterinária.
Para o presidente do CRMV-MT, Aruaque Lotufo, a combinação entre alto risco epidemiológico e baixa cobertura profissional, cria uma situação de atenção.
“A participação do médico-veterinário na saúde pública é indispensável. Hoje, Mato Grosso tem um dos piores índices de profissionais atuando no SUS, o que aumenta a vulnerabilidade da população diante das zoonoses. Isso acende um importante alerta para os gestores estaduais e municipais, e o Conselho tem atuado para mudar este cenário preocupante”, destacou.
Durante o treinamento, a bióloga Vilma de Souza, da Coordenadoria de Vigilância em Saúde Ambiental, reforçou que a troca de informações entre instituições é essencial para ações mais eficientes.
“As informações que outras instituições possuem refletem imediatamente na saúde. Com dados do INDEA sobre casos de raiva ou abrigos de morcegos, por exemplo, poderíamos direcionar nossos esforços com mais precisão. Trabalhando em parceria, fazemos uma saúde melhor”, afirmou.
A médica-veterinária Silene Rocha, representante do Ministério da Saúde e integrante do Grupo de Trabalho de Raiva, destacou o papel crucial desse profissional no SUS.
“É imprescindível o médico-veterinário na saúde pública. Detemos o conhecimento da epidemiologia das doenças. No atendimento antirrábico, por exemplo, apenas o veterinário pode avaliar o animal agressor, orientando corretamente a população e prevenindo novos casos”, explicou.
Ela ressaltou que o enfrentamento das zoonoses exige atuação conjunta entre saúde, meio ambiente e pesquisa, especialmente diante de situações como o aumento de morcegos em áreas urbanas.
O professor e médico-veterinário Arthur Octávio Nolasco Monteiro, presidente da Comissão Estadual de Saúde Pública do CRMV-MT, destacou que o treinamento capacitou equipes do SUS e de instituições parceiras para identificar reservatórios e vetores de doenças como febre amarela, oropouche e febre do Nilo Ocidental.
“Nosso principal objetivo é preparar profissionais para reconhecer esses animais em campo e intensificar a vigilância no Estado. É fundamental lembrar que Mato Grosso tem hoje o menor número de veterinários atuando na saúde pública. Isso precisa avançar”, afirmou.
Atuação do CRMV-MT para ampliar a presença veterinária no SUS
Para enfrentar o déficit, o CRMV-MT tem adotado medidas de orientação, fiscalização e diálogo com os gestores. “O conselho tem notificado municípios e o próprio Estado sobre a necessidade de manter o médico-veterinário na saúde pública. Existem normativas que atribuem exclusivamente a esse profissional determinadas ações, e ainda assim muitas instituições não possuem veterinários em seus quadros”, explicou Arthur.
O presidente reforça que fortalecer a presença veterinária no SUS é uma ação direta de proteção à vida: “Sem essa atuação, as zoonoses se tornam mais difíceis de detectar, prevenir e controlar.”
O treinamento reforçou que, sem médicos-veterinários, não existe vigilância plena de zoonoses e não há como aplicar efetivamente o conceito de Saúde Única.
Por que o médico-veterinário é essencial no SUS?
O profissional é responsável por atividades estratégicas na vigilância em saúde, como:
- investigação de surtos zoonóticos – (alto número de casos de doenças que passam de animais para humanos. Exemplos: raiva, leishmaniose, febre maculosa. Ou seja, quando várias pessoas adoecem ao mesmo tempo por uma doença que começou em animais);
- vigilância de arboviroses (doenças transmitidas por mosquitos e outros insetos. Exemplos: dengue, zika, chikungunya, febre amarela. Ou seja, arboviroses são doenças virais que precisam de um mosquito para se espalhar);
- controle de vetores e reservatórios – ( “Vetores” são os animais que transmitem doenças, como mosquitos, carrapatos e pulgas. Controle de vetores significa reduzir ou eliminar esses animais para evitar que eles espalhem doenças. Já os “reservatórios” são os animais que abrigam o vírus ou a bactéria, mesmo sem ficar doentes. Exemplos: morcegos, aves, roedores e alguns primatas. Eles não transmitem diretamente para todo mundo, mas mantêm o agente da doença circulando na natureza);
- análise de risco ambiental;
- necropsias e apoio diagnóstico;
- educação em saúde;
- integração entre saúde humana, animal e ambiental.
Participaram do Treinamento Teórico-Prático em Vigilância de Arboviroses Zoonóticas aplicada à Vigilância Animal:
- Ministério da Saúde;
- Fiocruz;
- Secretaria de Estado de Saúde de MT;
- Secretaria de Meio Ambiente de MT;
- CRMV-MT;
- Superintendência de Vigilância em Saúde;
- Coordenação de Vigilância Ambiental;
- Universidade Federal de Mato Grosso;
- Escritórios regionais de saúde;
- Unidades de Vigilância de Zoonoses de Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis;
- Secretaria de Saúde de Goiás;
- Instituto Evandro Chagas;
- Médicos-veterinários, enfermeiros, engenheiros florestais e biólogos.
Ascom CRMV-MT

